segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ana e o Mar - Primeira Parte do Primeiro Ato

Se levantou com frio. A noite havia sido densa. Depois de uma semana com o pai doente, a floresta parecia mais úmida e pungida de uma luz cada vez mais difícil, e o esquilos e dragonetes estavam cada vez mais distantes. Era época de primavera mas, para ela, parecia um eterno outono. Calçou suas sandálias de madeira com uma rosa encravada na correia, e foi para a cozinha da árvore de carvalho, tão grande quanto já se havia visto.
A comunidade era pequena, cerca de cem pessoas, e a grande maioria vivia da extração de néctar das flores gigantes e da venda de fogo-fátuo, encontrado nas raizes dos carvalhos-mourão.
Na cozinha, tinha alguns pedaços de nuvem-rosa pro café da manhã, e pólen líquido pra acompanhar. O café estava caro. Preparou tudo bem direitinho, o despertador-cuco do seu pai logo logo tocaria, o acordando. A moça estava triste, há muito não dava um sorriso de verdade.
O Pai logo se acordou, comeu, e foi trabalhar, mesmo doente. Ela ficou só em casa, mas pegou seu caderno, e foi pro Lago D'espelho, compor suas poesias e estórias.

"Quando meu pai ficar melhor,
vou levá-lo pra ver o mar."
Continuando o projeto Quatro Estações, dou início aos Contos de Primavera com um poema que fiz pra uma grande amiga, que tem me ajudado em muitas coisas e revelou-se uma pessoa maravilhosa.
Dedico essa primeira poesia a Isabel Meneses.

"Minha Fé

Pedaço de céu
azul-alaranjado,
de todo o mar manjado,
de lápis e folha de papel.

Gota de mar,
oceano e dança de ar,
olhos de nuvem,
negros e penugem.

Danças das rosas,
diferente de portas e desafios,
como um pássaro voando no vazio,
se parece com o mar e seus navios.

Sorriso paraíso,
da chuva e frio quente abrigo,
da mata o orvalho,
o às de espadas do baralho.

Pele de café,
da luz que impede a ré,
do juz que faço a minha fé,
minha fé."