domingo, 21 de dezembro de 2008

Ana e o Mar - Segunda e Última Parte do Último Ato

'Now, you have two ways to make. The way of scorpion and the way of the phoenix'

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Ainda de pé, um olhou para o outro. Se viram acima do subsolo, sobre o disco voador de Liberdade. Era a última marcha, o dia que decidiria tudo o que estava por vir. Tudo aquilo que precisou de mil anos para se resolver seria resolvido nessa última batalha. Os Palhaços de Alexandria provavelmente já deveriam estar mais perto da Terra das Sombras, pensou Joakim. Amália podia sentir o que o irmão estava pensando. Em como tudo aquilo começou, em como iria se concretizar o desfecho desse conto que durou tanto tempo.
Ganhar a batalha não era apenas uma questão de realizar um dever deixado por Deva, mas também significava salvar o mundo de um mal que tentou governar e atrapalhou a vida da população de uma forma tão catastrófica que até a mais bonita das florestas pereceu. Ganhar essa batalha significava ir a favor de tudo aquilo que as gerações anteriores foram construindo, e também continuar o legado deixado pelos primeiros Palhaços que pisaram no Mundo.
Para algumas pessoas, ver um Palhaço ou conversar com um é uma coisa tão mágica que parece que o momento não vai acabar. O brilho no olho da criança e o sorriso que o tempo muitas vezes deforma dos idosos transformam a vida de qualquer um. É gratificante você saber que o dia de alguém mudou por sua causa. E chega até a ser engraçado o que algumas crianças fazem, coisas como estirar o dedo ou mostrar a língua, tentando intimidar um ser que eles tanto querem que o abracem e brinque. É tudo lindo.

*

O disco levantou vôo. O céu estava claro agora, a velocidade com que o mesmo avançava sobre as nuvens era incrível. Joakim, Amália, T, Liberdade, Vida, Pétala e Nina, juntos, se sentiam invencíveis.

*

Do outro lado do Mundo...

- Eles podem vir em milhares, mas não abrirei os braços para isso. Vou vencer. De novo.

*

Do narrador aos leitores.

De fato, a mágika de Pied era muito poderosa. Palhaços de todas as partes do Mundo tinham perecido sob seu poder, até mesmo os mais poderosos. O próprio Deva teve dificuldades de aprisioná-lo da última vez. Talvez, se Sadhi não estivesse louco, tanto Deva como Olivier com certeza estariam enterrados agora. Treva é um dom muito poderoso, apesar de macabro. Tão poderoso que Deva criou apenas um Palhaço com esse Dom e outros 7 para poder fazer a lei do equilíbrio valer. Na verdade, foram criados diretamente por Deva 8 Palhaços. Um permaneceu em exílio eterno. Esse Palhaço sofreu tanto pelo seu dom que foi nomeado de Piedade, porque o que ele mais precisava de todos os outros que o cercavam era isso, piedade. Mas todos o olhavam diferente. Ninguém o estendeu a mão quando ele precisou. Só um, em todo o Mundo. Sadhi. Apesar de louco, era muito esperto. Sabia que a rejeição de Piedade por parte dos outros Palhaços o faria um bom aliado quando soubesse que a intenção era dominar o Mundo e selecionar os Palhaços que iriam governá-lo. Foi a melhor estratégia que ele podia ter feito. Ao término da Guerra do Fogo e com a morte de Sadhi, Pied foi confinado na Terra das Sombras por Deva. Sua magia foi selada por mil anos, de forma que só nos tempos atuais ele pôde se libertar. O que ele não esperava é que sua mágika foi selada não em um amuleto ou local, mas em uma pessoa. Quando se guarda mágika em uma pessoa, para retirar essa energia contida é usada a técnica que os magistas humanos chamam de 'Desenredar'*. O portador da energia tem de ir liberando-a aos poucos, caso contrário, o tempo fará com que a mágika acumulada apodreça, e tome conta do corpo, que vai ficar doente até a energia ser liberada por completo. O pai de Ana é descendente direto do primeiro humano em que a energia de Pied foi aprisionada, por isso continha grande parte de toda essa energia, que foi sendo liberada aos poucos, por isso o mesmo ficou doente. Até que um Palhaço foi criado dessa concentração de energia. Medo só apareceu uma vez, e foi na Guerra da Planície de Gonda. Hoje, voltou no corpo do pai de Ana. E é ele quem vai ajudar Pied.

*

Lá de cima já podia se ver aquelas nuvens negras e podia-se, também, ouvir o som dos trovões que dividiam o céu em tantos pedaços. Aquela horda de Palhaços marchando era vista, também. Milhares, milhões, infinitas máscaras olhavam pra um mesmo local, com um mesmo objetivo e com a mesma força. De repente, do ar pôde-se sentir a terra tremer, e um pilar com uma luz roxa foi visto crescendo até o céu e liberando uma energia jamais antes sentida. Uma onda de energia derrubou algumas das árvores sem vida e alguns dos combatentes. O disco, podia-se jurar, sofreu uma leve alteração no seu curso. Foram então, os Filhos do Sol, cada um para um lado. Alguns Palhaços precisavam de liderança. Criaturas mágicas começaram a aparecer do nada, estavam sendo evocadas pelos evocadores da magia. O terreno, todo em pântano, estava mais negro do que nunca. Começou a chover. Desceram à Terra, quando aquele Palhaço empunhando duas espadas foi visto. Ele sumiu como um raio aparece. Então, corpos voando ao meio do exército foram vistos. Gritos e luzes e mágikas e trovoadas. Um único Palhaço dando conta de todo um exército. Foi então que viu-se Joakim e T entre os Palhaços e eles foram ficar frente a frente com Medo.

- Daqui você não passa; Joakim estava encharcado por conta da chuva. O cheiro de morte era sentido em qualquer local e alguns corpos estavam perto dele. Sua máscara estava diferente. Um olhar diferente, uma aura diferente.

- Eu não vim para lutar. Eu vim pra vencer; Medo desembainhou sua outra espada para confrontar o filho do sol.

Guizos rolaram pelo ar e seu som era ouvido até onde o olho podia enxergar. Uma legião de mortos vivos se ergueu do pântano. Eram esqueletos de gente e de animais, pessoas que um dia pensaram, viveram e até amaram. Era incrível o modo como Vida os repelia. Eles nem conseguiam tocá-la, ao menos. Nina, Amália e Pétala protegiam os guerreiros do exército com escudos de flores e mentais. Arco íris nasceu e um cometa veio descendo. T estava olhando fixamente para o céu naquela hora e de si saía uma aura boa. Com a queda, alguns esqueletos foram derrubados, e uma ventania foi fortemente sentida quando aquela boneca alta começou a girar seus acessórios.
Do outro lado, Joakim levava uma surra do outro Palhaço. Amália conseguiu se esquivar do toque dos carniçais e chegou até onde ele estava. A espada estava em seu pescoço, quando T, Nina, Pétala, Vida e Liberdade se viraram e uma luz enorme foi vista. Alguns ficaram encadeados e os mortos-vivos que estavam por perto evaporaram. Uma luz azul e roxa foi vista e nem Amália nem Joakim estavam mais lá. Segurando a espada com uma mão, um Palhaço vestido de azul e rosa, com um chapéu de bobo-da-corte e levitando estava lá em frente ao Medo.

- Há quanto tempo.

O Palhaço do inimigo olhava estranho mas com um sorriso irônico no canto da boca.

- Agora vou ter um oponente à altura. Então, como foi o tempo separado, Olivier?

- Melhor que o seu, garanto.

Sumiram com uma velocidade incrível e reapareceram voando no céu. Os outros Filhos do Sol estavam tendo trabalho contra os esqueletos, mas os Palhaços de Alexandria estavam sendo de grande ajuda. Mas aquele castelo começou a subir dentro do pântano. Um riso histérico ouvido por todos fez tremer os mais fracos.

- Vaaamos Filhos do Sol, vamos dançar!

Boom! A explosão abriu uma cratera imensa em que apenas os que sabiam voar e os que ficaram sob o disco de Liberdade se safaram da queda. Pied foi visto. Com metade do corpo preta e a outra metade branca, ele trazia um naipe, apenas um sob sua máscara. Espadas. Os esqueletos pararam quando ele chegou. Seu olhar era frio e indiferente e sua presença dava arrepios. Desceu devagar, passo por passo, as escadas que levavam às portas do castelo.

- Quantos de vocês vieram para me enfrentar?

Silêncio. A única coisa que se ouvia era Olivier e Medo duelando céu acima.

Pied não esperou nada acontecer nem ninguém falar, começou a retalhar tudo e todos pela frente. Gritos, almas, mágika, tudo voando sem rumo. Até que o céu, vermelho, se abriu. Um Palhaço roxo desceu como uma estrela, e um grito fou ouvido. Até que o clarão tomou conta de tudo.

'Jai Guru Deva. Om.'

Fim.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ana e o Mar - Primeira Parte do Último Ato

'Somente o amor é capaz de unir os corações. Só ele pode tudo'


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Longa viagem enfrentaram os iluminados. Dez dias viajando interminavelmente, com o horizonte a cada dia que se passava se alongando. Joakim, Amália, Liberdade e T finalmente estavam chegando perto do final. Ana iria ser recuperada, por fim, e todo aquele mal que teve início há mil anos iria ser deposto. A Floresta da Lembrança estava caída. O cheiro de morte era sentido em todos os lugares, e até mesmo as flores estavam desaparecendo. Foi quando, a caminho da viagem, numa das terras das Planícies de Gonda, alguém pôde ver o disco voador, protegido por mágika forte. Liberdade era uma ótima magista. Joakim ficou parado observando, enquanto Pétala e Amália conversavam alguma coisa sobre árvores.


- Liberdade, olha só aquilo.


Liberdade imediatamente virou-se para baixo, enquanto Joakim, que estava com o dedo erguido apontando para os Palhaços, que estavam lá em baixo colhendo aquela rosa morta, e ficou observando.
O transporte parou de repente, enquanto todos se abaixavam pra olhar.
A rosa estava murcha, e um dos Palhaços a pegou em sua mão como uma mãe toma o filho aos braços pela primeira vez. Um dos Palhaços usava uma boina quadriculada em preto e branco, e sua boca era preta como a cor da meia-noite. O outro, tinha cores por todos os lados, e usava uma meia calça colorida que combinava com sua bolsa.
A rosa na mão do palhaço que tinha a boca cor da noite começou a reviver. Primeiro começou a se mexer, como quem dá um primeiro suspiro de vida depois de alguns momentos de desespero. Depois, algumas folhas começaram a crescer novamente, e o seu cheiro revigorado inundou uma área gigante. Ficou tão linda, mas tão linda, que aquele Palhaço não podia ser outro, senão Vida.
Vida foi o Palhaço que Deva colocou o dom mais bonito. De tão lindo e poderoso que era o dom, o próprio foi o que deu o nome ao Palhaço que o porta. É sinal de força, perseverança. Joakim admirava muito isso. E talvez aquele Palhaço fosse o mais indicado dentre todos pra guiar ao caminho mais certo entre os que eles têm a escolher.
O disco começou a descer levemente, e Liberdade abriu um sorriso gigantesco com aquilo que acabara de presenciar. Os outros permaneceram curiosos, apenas.


- Viiiiiiiiida!


Os dois Palhaços pararam e ficaram olhando para Liberdade, que mal esperou o disco tocar o chão pra poder descer e ir correndo de braços abertos. As duas se abraçaram num abraço tão gostoso, mas tão gostoso, que quando o raio de sol que há na máscara de Liberdade tocou o ombro de Vida durante o abraço, um sol surgiu nos olhos daquela que carrega consigo o dom maior. Era o 5º Filho do Sol que estava ali, à espera deles. O outro Palhaço, a quem se apresentou posteriormente, se chamava Nina. Pararam naquela planície depois de muito andar. Parecia que o Mundo chamava todos os Palhaços para ajudá-lo. Disseram, as duas, que uma marcha de Palhaços de todos os tipos havia partido de Alexandria no dia anterior, e estavam se dirigindo, de todas as formas possíveis, para a Terra das Sombras. Como eles ficaram sabendo do que estava acontecendo, não se sabe, mas todos estavam dispostos a ajudar o Mundo a se tornar um local melhor. Com tanta coisa ruim, com tanta gente precisando, com tanto roubo e desgraça, alguns muitos Palhaços se sensibilizaram. Ser Palhaço não é apenas colocar uma máscara e sair por aí com um sorriso no rosto, mas também saber que um abraço às vezes cura uma ferida, e que esse sorriso que é carregado consigo pode mover montanhas. O 'exército' contava com todos os tipos de Palhaço, e pela primeira vez na história do Mundo, uma marcha tão grande foi vista em prol de um único objetivo. Quando souberam disso, os viajantes do disco voador olharam uns para os outros e ficaram tão felizes que decidiram partir imediatamente para buscar Pétala, que estava em Brobdingnag. Faltava pouco para chegarem.


*


Brobdingnag havia se tornado uma arena de batalha. Todos os gigantes brigavam por qualquer coisa que quisessem e qualquer coisa que lhes chamassem a atenção de modo que desejassem-na. O continente estava realmente se deteriorando, com algumas imensas paredes de gelo derretendo e as brigas sendo cada vez mais destrutivas. Era como se alguma coisa estivesse tomando conta da mente deles. Alguma coisa realmente muito ruim. O céu do continente era cor de fogo, apesar do frio ser sentido até a espinha da alma. O chão, que agora podia ser visto, pois o calor da batalha derreteu a vasta camada de neve que o cobria, estava todo rachado, como se o alicerce que segura o continente estivesse quebrando. Na verdade, a ligação entre as criaturas estavam se quebrando. O mal lançado ao Mundo por Pied foi tão poderoso que até os sacerdotes dos templos racharam sua fé.
Os Filhos do Sol puseram o pé no continente ao mesmo tempo que a lua se escondia nas estrelas.
Rapidamente, foram teletransportados para o imenso labirinto que se escondia no interior daquele continente-iceberg. Os corredores eram gélidos, e a sorte é que Liberdade conhecia aquele local de cor.
Ao longe, no que aparentava ser o centro do local, uma luz forte brilhava, e uma oração dava pra ser ouvida em todo o labirinto. Caminhando um pouco, todos apreensivos, chegaram ao centro da charada. Pétala estava ajoelhada, sobre um esquife de gelo que continha um corpo, e era ela que estava orando.

- Amália, você lembra que viemos aqui para ressucitá-lo da outra vez?; perguntou Joakim, apreensivo.

- Lembro sim, Kim; Amália respondeu de uma forma que deu a entender um 'eu não apóio'.

- Talvez ele seja uma boa ajuda.

- Nem pense.

E ele se calou. Joakim pensava que isso realmente poderia ser de grande ajuda para conseguir derrotar Pied, mas quando se lembrou da horda de Palhaços que estavam se dirigindo para a Terra das Sombras, raciocinou que talvez não precisassem de fato, daquilo.
Pétala terminou sua oração. Fez um lacre para impedir qualquer magia vinda de fora penetrar no corpo de Sadhi. Ela era realmente muito bonita. Usava uma faixa azul na cabeça e um vestido florido que ia até o começo dos joelhos, cobertos por meias coloridas e enormes. Branca como a neve que que a cercava, tinha um olhar doce e tenro, apesar de ser um poço de ignorância às vezes. Quando se levantou, todos olharam para ela, e depois se entreolharam.

'Está na hora'.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

17 de Dezembro

Ah, jamais hei de esquecer aquele 17 de Dezembro!
Essas datas perto do Natal sempre marcam, especialmente se estiverem perto do dia 25.
Lembro que minha família se preparava para viajar, e que lá na outra cidade, tudo estava tranquilo e bonito. Nos reuniríamos na casa da minha avó, como de costume, e cantaríamos ao som do violão do meu tio até 4 horas da manhã, lembrando do meu falescido avô.
Nesse dia, que caiu num sábado, o céu havia amanhecido claro-cinza, e tudo estava indo bem até demais. Havia passado no colégio sem mais preocupações [fora algumas recuperações, claro], o Natal com minha avó seria muito bom e o mar, ah, o mar que eu iria ver em breve me fazia lembrar dos meus momentos de paz.
O computador que meu pai havia comprado recentemente era bom, sim. Tinha até internet!
Pra um garoto de 15 anos, até que eu tinha uma vida legal. As coisas naquele ano de 1994 eram bem diferentes do que são hoje. Não tínhamos todas essas regalias que os jovens de hoje tem. Namorar? Só depois que toda a família de ambas as partes fossem conhecidas, e esse negócio de ir passar Natal fora era coisa de gente rica. Minha mãe trabalhava no comércio da cidade velha, num escritório de contas. Papai era vendedor, por isso não tinha um salário fixo. Dessa forma, era um mérito pra gente poder ir sem preocupações pra outra cidade. Tudo bem que o meu colégio devia estar atrasado uns 4 meses, mas dava pra fazer um esforço pra pagar em Janeiro, quando mamãe fosse receber o décimo terceiro salário.
Foi justamente no ano de 1994 que nos mudamos pra cá. A cidade é boa, tem pessoas legais, mas às vezes é muito pacata. Essa gente do interior é estranha. Tenho vagas lembranças de como minha mãe conheceu meu pai. Salvo engano foi num bar da cidade grande, um tal de 'Travessia', que era o bar do momento naquela época. Meu pai, que sempre foi festivo e estava morando com amigos numa casa alugada, vivia saindo pra esses cantos. Segundo ele, ele era o 'gatão' das festas. Mas o tempo vai passando, e percebemos que as coisas mudam. Vem tecnologia, vem e vão presidentes, desastres catástrofes, ah, várias coisas. Mas não quero me demorar a contar essa estória.
A internet naquela época estava começando a surgir, não tínhamos muitas opções de comunicação. No meu colégio, que eu não tinha ido antes por pensar que era caro demais, havia sido criada uma sala de bate papo num site para que as pessoas de cada sala pudessem se comunicar. Tudo começou no meio do ano, em Junho mais ou menos, quando ela me adicionou no que hoje chamamos de 'Perfil do Usuário' da comunidade online do colégio. Tudo aquilo era uma inovação, claro, nunca imaginávamos, em 1990, por exemplo, termos acesso a outras pessoas do outro lado da cidade pelo computador. O próprio Bill Gates, alguns anos antes, afirmou que não precisaríamos de um chip com mais de 128kb para processar nossas informações. Enfim, voltando ao principal, ela adicionou o meu Perfil da comunidade como um de seus contatos. O tempo foi passando e eu, ocupado com muitas outras coisas, não dava a mínima pra esse negócio via internet. Até que um dia, me vi sem nada pra fazer e liguei o computador [que, por sinal, ainda era um daqueles que faziam um 'beep' quando se apertava o botão de ligar]. Passei um tempo lendo as notícias dos novíssimos jornais 'online' e depois dediquei parte do meu tempo à comunidade do colégio. Então, vi o perfil dela. Tinha algo estranho escrito na informação 'cidade'. Algo sobre duas árvores, não lembro direito, mas isso me chamou a atenção. Então comecei a puxar assunto com ela, via internet mesmo. Era uma pessoa bacana, tinha um papo legal, e só depois eu vim perceber que ela era aquela garota que havia engessado o pé e tinha de ser carregada pelo porteiro nos braços até o primeiro andar por não poder subir as escadas. Eu morria de rir com aquilo!
Após uns dois meses do meu comentário 'ei, gostei do que tem escrito lá' ela veio conversar comigo. Interessante que o nome dela começava com a mesma letra do meu e que nossos aniversários eram no mesmo mês, diferente apenas em alguns dias. Nos tornamos bons amigos, de fato. Conversávamos sobre os dramas familiares, sobre o que tava acontecendo no mundo, até sobre música, que eu estava começando a apreciar um pouco mais. Já dizíamos 'eu te amo' antes de nos despedirmos, e dávamos abraços contagiantes no colégio, com direito a algumas conversas rápidas, mas tão maravilhosas! Foi então que se aproximava o dia que intitula esse conto. Era última semana de prova, lembro. Havia ficado em sete recuperações nesse bimestre, o que me tirou totalmente o tempo pra lazer. Ao término da semana, dei um suspiro de alívio tão grande que acho que minha mãe, que estava tomando banho quando eu cheguei, deve ter ouvido. Joguei a bolsa na cama e fui pro computador. E lá estava ela, toda linda, com uma rosa à frente do nome. Me convidou pra sair à noite, o irmão dela iria se apresentar num espetáculo de Natal. Eu já havia combinado com uma amiga minha para ir também, mas disse que aparecia por lá.
Passei o resto do dia descansando, quando só às 18 horas comecei a me aprontar. Coloquei um perfume bom, e minha melhor combinação de roupas. Acho que foi o banho mais demorado do ano. Cheguei na casa da minha amiga atrasado, e fizemos um rápido cooper até o local da apresentação, que era bem próximo à casa dela. As arquibancadas estavam todas postas de modo a formar um retângulo ao redor do palco circular, parecido com os velhos teatros gregos. Subimos, eu e minha amiga, à arquibancada mais alta. O espetáculo ainda ia começar, quando avistamos o pessoal que estudava lá no colégio sentados em cadeiras à frente da arquibancada que ficava do outro lado do diâmetro do palco, exatamente de frente para nós. Acenamos e eles retribuíram. Aquelas pessoas ao lado dela eram da família, reconheci pela idade de alguns e carinhos com outros. O espetáculo foi bom, e no meio do mesmo, uma garotinha de uns 6 anos vestida de anjo chegou para me oferecer uma rosa de papel crepon. 'É pra ajudar os meninos carentes, moço' disse ela. Não resisti e comprei. Rapidamente pensei 'porque não oferecer a rosa a ela?' mas como diabos eu ia fazer isso, eu não sabia. Perguntei à minha amiga e ela foi simples na resposta 'chega lá e entrega'. Mas só de pensar que um daqueles caras lá podia ser o pai dela, minhas pernas tremiam todas. Foi quando a vi levantando com a avó e saindo do espaço delimitado pelas arquibancadas. Iam a caminho do banheiro, que por sinal ficava atrás da arquibancada em que eu estava. De repente, me vi descendo as escadas ao som de algumas músicas natalinas, e indo pelo caminho que dava a volta na arquibancada paralela, de forma a seguir o mesmo caminho que elas, que já estavam voltando. Meu rosto corou e esquentou, enquanto a avó dela olhava pra mim e tentava entender direito se tinha ouvido um 'é pra você' e visto minha mão erguida com a rosa rosa azul de papel crepon implorando pra ser pega. Ela pegou, com um sorriso bobo no rosto, e me apresentou a avó dela. Ela me chamou pra sentar do lado dela, mas não poderia fazer isso. Não sem antes chamar minha amiga, que deveria estar morrendo de rir da minha cara lá de cima, observando tudo. Fui lá então, e chamei-a pra me acompanhar. Descemos e fomos nos sentar perto do resto do pessoal. Sentei ao lado dela! A olhei por uns instantes e dei-lhe um beijo rápido na bochecha. O tempo passou tão rápido depois disso que logo me vi em casa. Perto dela eu me senti em casa.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ana e o Mar - Última Parte do Terceiro Ato

'Já chegou o disco voaadoooor.'

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O dia havia amanhecido cinza. Todos ainda estavam atordoados pelo acontecido: Ana havia sido levada pelo Palhaço que se autodenominou 'Medo'. Nem a chegada de Liberdade, a 5ª Filha do Sol, fez com que todos se animassem totalmente. Estavam todos na sala da casa de Amália, na Floresta da Lembrança, estudando o que poderiam e deveriam fazer. Arnaldo estava dormindo, havia ficado doente por ter 'deixado' que levassem Ana. Liberdade chegou naquela hora exata. Foi um dos Filhos do Sol que Deva deixou responsável por zelar o corpo de Sadhi*. Quando por fim desceu à terra, viu o corpo de Amália, Joakim e T, o único que tinha ficado consciente, velando por Arnaldo, também caído.

- Que droooga! Como pode? Ele era só um! Só um! Nós somos três cara, três! Três dos Palhaços mais poderosos que pisaram nessas terras! E só um, uuum Palhaço conseguiu nos derrubar!; Joakim estava totalmente anormal.

- Caaalma, Kim! Tu acha que Pied ia mandar um Palhaço de quinta pra pegar a gente é?; amália disse, totalmente receosa. Liberdade só fazia ouvir, olhando pela janela pensativa, com a mão no queixo enquanto sentava na cadeira de pano. T, como sempre, só olhando os dois discutirem.

- Calma? Você me pede pra ter calma? A gente passa mil anos, miiil anos vivendo aqui com uma única finalidade e começamos falhando com isso? Eu não entendo!; e passaeva de um canto do outro da sala, colocando a mão no queixo, às vezes na cabeça, pensando no que fazer.

- Liberdade, alguma idéia?; Amália estava rezando pra ver o irmão se aquietar logo. Parece que, na divisão, ele ficou com a parte do 'estresse'.

- É, Liberdade, alguma idéia?; Joakim repetiu quase que imediatamente a fala da irmã, como quem sai de um transe. Até com um tom nervoso e rápido ele falou.

- Faltam 3 de nós, cara! Assim não dá, né? E deu um sorrisinho com os olhos brilhando. Vamos atrás desses três. Um eu já sei onde tá, tava comigo guardando o corpo de Sadhi. Os outros dois eu não sei bem onde estão, mas isso se acha, 'né'?

Joakim ficou se perguntando de onde ela tinha tirado esse 'né'.

- Então tá bom, por mim tudo bem. Todos de acordo?

Todo mundo balançou a cabeça depois de ver o ataque que Joakim tinha dado e a proposta que ele fez.

- Mas como a gente vai fazer pra ir pra lá de novo?; Amália perguntou fazendo cara de quem não tem dinheiro pra gastar.

- Vamos da mesma forma que voltamos, minha gatxenha! Montados num disco voador!; Liberdade parecia realmente estranha aos olhos dos outros. Palavras estranhas, costumes estranhos e viajar num disco voador! Mas, apesar de tudo, todos estavam se divertindo com ela.
Então, ela pegou um disco negro que estava pendurado sob seu pescoço e o colocou no chão.
Amália, que estava desacordada quando eles voltaram começou a rir.

- Vamos nisso daí? perguntou.

- Eeeei, 'nisso' não! É muito especial! Vou colocar ele lá fora, e ele vai crescer bem muitão e a gente sobe nele e vai pra lá e zaz**!

Todos caíram na risada, mas se contentaram. Já estava ficando de tarde, e a fme estava apertando. Alguns machucads ainda doíam, como o chute que Joakim havia levado. Arnaldo teria de ser deixado no hospital de Alexandria, eles acharam melhor não levá-lo pra não colocá-lo mais em risco. Sem contar que sua febre estava forte, e ele estava até delirando.

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Após o almoço, Liberdade colocou o disco [imaginem esse disco como um vinil] na copa [copa de árvore, não de cozinha] da casa de Amália e falou algo estranho. Do nada, aquele objeto estranho começou a crescer e flutuar rapidamente, abrindo espaço para todos os Filhos do Sol se acomodarem para essa longa viagem. Passaram por Alexandria, enquanto todo mundo observava aquele disco voador, e Liberdade logo à frente do mesmo, fazendo pose de herói com s braços na cintura e a cabeça soerguida olhando para o nada. Arnaldo foi deixado no melhor hospital da cidade. 'Voltamos em uma semana' disse Joakim. Enquanto isso, do outro lado do Mundo, o outro Filho do Sol já os esperava. Chamava-se Pétala, e era um dos mais bonitos. Nasceu da vontade de Deva de tornar o Mundo mais bonito, por isso recebeu esse nome.
Tudo estava se juntando.

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Nota

* Bem, algumas pessoas vieram me perguntar sobre onde, de fato, estaria o corpo de Sadhi, pois em uma das postagens anteriores, essas pessoas se confundiram quanto à leitura ou então eu fiz uma coisa subliminar demais para ser entendida sem explicação.
De fato, na Guerra do Fogo, no Deserto de Sadhi, foi colocado um túmulo em homenagem à batalha, mas Deva retirou o corpo de Sadhi de lá e o colocou no Continente Gelado, em Brobdingnag, sob os cuidados de Liberdade e Pétala.

** Sim, o 'zaz' é da turma do Chaves. O Palhaço, na vida 'real' também fala isso, então resolvi colocar aqui como homenagem.

P.S. Qualquer dúvida sobre o conto de Ana e o Mar, postem aqui como comentário que eu respondo.

Augusto Carvalho