domingo, 30 de novembro de 2008

Ana e o Mar - Terceira Parte do Terceiro Ato

'Que o tempo corrói'.

-

Ana parecia REALMENTE não acreditar no que estava vendo. Ela conhecia aqueles olhos, aqueles olhos cor de deserto. Virou a cabeça pra um lado e pro outro, tentando encontrar alguma coisa mas não sabia o que. Amália não estava com eles, era verdade mesmo. Joakim colocava um dos guizos que havia tirado do bolso em sua luva e T ainda estava tentando achar Amália, em vão, com o olhar. Aquele Palhaço continuava imóvel, observando-os. Arnaldo se escondeu atrás de Ana, que foi caindo, catatônica, bem devagarzinho. Ele a segurou e amparou sua queda.

- Onde está Amália?; Joakim ficou estranho de repente. Seu olhar ficou, de alguma forma, negro.

- Em algum lugar que você, agora, não pode chegar, Olivier; o Palhaço respondeu como quem dar uma ordem e é apático ao mesmo tempo.

Uma pedra de gelo gigantesca foi erguida do chão, aparentemente do nada.

- Eu não vou perguntar de novo.

- Nem eu responderei novamente.

A pedra foi arremessada. Arnaldo se jogou por cima de ana pra tentar protegê-la de alguma coisa que ele não sabia o que era. A poeira gelada levantada pelo vácuo deixado atrás da pedra foi, de certa forma, grande.
Mas uma lâmina cortou o ar, e logo todo aquele pedaço de gelo foi visto dividido, enquanto o inimigo brandia sua espada com apenas uma mão.

- Você não vai conseguir me atingir, Olivier. Não dessa vez. Vou levar a menina comigo agora, é claro.

Luz! Uma bola de fogo foi arremessada por detrás de Arnaldo, e T foi visto avançando em cima do inimigo. Rápido, um estava de cara pro outro. Arnaldo viu T parado no ar por um instante, como se voasse, com seu punho quase tocando a face do outro. Como luz, o inimigo puxou uma carta de baralho do bolso e a colou na testa de T, que caiu. Joakim já estava ficando mais diferente ainda, quando viu o inimigo sumir e aparecer bem ao seu lado.

- Droga, ele se teletransporta!; pensou. Levantou o punho mas recebeu um chute no estômago que doeu proporcionalmente à velocidade com que foi investido. Joakim voou longe, e Arnaldo colocou Ana nos braços com muito esforço e começou a correr. Mas logo se viu sem ela, do nada, como se ela tivesse se desmaterializado em seus braços. E a sensação de inutilidade foi enorme.
Então, ele se viu apagando.

*

Novamente no castelo, ele sentia medo.

- Decidiu o que vais fazer?

- Decidi sim. Vou criar todos os 7; falou com um certo pesar na voz.

- Até Treva?

- Até Treva. Foi isso que foi-me imposto. Equilíbrio. Se eu não o fizer, tudo vai se desequilibrar, e algum deles com certeza vai se corromper, porque os nós vão pedir isso. Então eu prefiro conhecer a fundo o que eu criar a deixar qualquer um dos outros se transformar em algo que eu desconheço.

- Mas o que impede dele contaminar os outros?

- Nada. E o que lhe diz que ele vai contaminar?

- Também nada. Mas em que eu posso ajudar agora?

- Quer que você vá na Terra das Sombras.

Olivier olhou assustado.

- Fazer o que?

- Me traga...

Joakim acordou de súbito. Agora estava no mesmo porto em que tinha desembarcado, e Amália ao seu lado, ambos sob cuidado de outro Palhaço. E ela deu a ele uma sensação de liberdade.

sábado, 29 de novembro de 2008

=D²

Mermaaaaaaaaaaaaao, isso daqui é só um blog de poesia e tal, mas caraca, muuuuito boa notícia recebi agora!
Manel passou na primeira etapa do vestibular com uma pontuação muuuito boooa! *-*
Maneeeeeel, tudo de bom pra ti e pra teu irmão velho, eu amo vocês! *-*

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

aar(n)tigo

Que culpa corroendo é mesmo que artigos jornal.
Que marés que não viram páram e só olham.
Doce mar, perdeu meu cantar.
Dói, dói.
Lose you makes me hurt,
makes me suffer to much,
on the void,
i feel that i'm falling.
You make me sick.
É, todo dia é a mesma falta.
E eu me visto de você,
mas mesmo assim você não me olha.
Porque, eu nao sei.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ana e o Mar - Capítulo Especial - A Ilha dos Pensamentos

À seu Romério, que me ajudou bastante.



-

O palhaço se sentou em frente à pessoa que precisava.

- Como é seu nome?

- Augusto [ainda pensou em dizer ‘Joakim’].

- E o do senhor?

- Romério.

- Ai vida difícil...

- O que foi, rapaz?

- Ah, problemas do coração.

O senhor ficou encarando-o, enquanto marretava a bigorna do martelo que estava construindo.

- Mas você é tão novo, rapaz. Qual tua idade?

- 17.

O senhor abriu um sorriso.

- Eu tenho um filho da tua idade, e sempre que posso, aconselho ele. Olhe, vou lhe contar uma estória, chama-se ‘A Ilha dos Pensamentos’.



Havia uma ilha distante, onde viviam todos os pensamentos. Nela, vivia o amor, a tristeza, o rancor, o tempo, o ódio, a raiva, a alegria, a emoção, a razão, o bem, o mal, a saudade, a lembrança, a fé, a crença, a ilusão, a vida, o vazio, o romance; enfim, todos os sentimentos que podem existir.
Um dia, nessa ilha começou a chover, e a mesma estava ficando submersa e, com ela, todos os sentimentos estavam morrendo. Sendo que aconteceu de um deles querer salvar todos os outros que estavam se afogando. Amor começou a pegar um por um e colocar nos botes que haviam na ilha. Colocou o tempo, a tristeza, a alegria, o rancor, a saudade, todos eles, sendo que, ao olhar pros lados, viu que não haviam sobrado nem um bote no qual ele pudesse se salvar. Então, quando estava se afogando e quase desmaiando, sentiu uma mão lhe puxar pelo braço, mas não pôde ver quem era, e desmaiou antes disso.
Quando acordou, já em terra, foi perguntar quem o tinha salvado, mas parecia que não encontraria.

- Tristeza, foi você quem me salvou?

- Não.

- Saudade, foi você quem me salvou?

- Não.

- Fé, foi você quem me salvou?

- Não.

Parece que ele já tinha perdido a esperança de procurar, até que, enfim, encontrou quem o havia salvo.

- Tempo, foi você que me salvou?

- Foi sim.

- Mas porque , entre todos, foste o único a me salvar?

- Só o tempo pode salvar o amor. Nenhuma dor é maior que a perda do amor, ou de um amor, de forma que só eu posso ajudá-lo.

[...]


O palhaço estava com os olhos lacrimejando, lágrimas que não vinham dos seus trocadilhos, nem da sua máscara. E o senhor continuou:

- Olhe, tudo o que você quer pode acontecer, mas primeiro você deve ter três coisas.

Nessa hora, um amigo de seu Romério tinha se sentado do lado, mas logo saiu. Só então, ele pôde perguntar:

- E quais são essas três coisas?

- Eu vou lhe dizer. Primeiro você precisa ter fé, acreditar que o que você quer vai acontecer. Quando se acredita, se pode tudo, rapaz, tudo.

Ele ficou cabisbaixo, às vezes olhando para seu Romério com o olho meio torto.

- Segundo, você tem que retirar todas as mágoas do seu coração. Todas as pessoas que lhe fizeram guardar esse rancor, retire essas partes ruins de si, jogue fora tudo de ruim que estiver aí dentro, porque, pra que uma coisa boa aconteça, nada de mal pode estar guardado. Jogue fora, deixe o orgulho de lado, e seja feliz.

Uma pausa gigante foi dada.

- A terceira coisa é a mais difícil. Chama-se P-A-C-I-Ê-N-C-I-A. Sem ela, nada do que você quer acontece. Pode durar mil anos, mas se você estiver com essas três coisas, tudo o que você quiser vai acontecer. Tudo.

E conversaram ainda mais, e o palhaço saiu satisfeito. Pesado, mas satisfeito.



-



na Fazenda do Sol, em 16 de Novembro de 2008.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ana e o Mar - Segunda Parte do Terceiro Ato

'toda Alexandria sucumbirá quando o Medo retornar. Eles vacilaram em suas escolhas, e, agora, só nos resta esperar pelo tempo.'

- Palavras do Oráculo de Ramuh

*

O continente era realmente gelado. O porto não passava de uma ponte semi-destruída de madeira íngreme, com seus pilares já corroídos pelo tempo. A neve, branca como nunca se viu, tinha várias marcas de pegadas, pois o local, de alguma forma, não permitia-se ventar. O navio atracou um pouco antes, pois o solo escuro havia ficado menos submerso. Foram Ana, Joakim, Amália, T e Arnaldo num único bote, pois eles eram as únicas pessoas que ficariam naquele lugar. Pisaram em solo após cerca de 10 minutos tentando conduzir o barquete. As luzes da montanha mais vistosa estavam beeeem distantes, mas mesmo assim ainda dava para vê-las.

- Pensei que não iríamos chegar nunca! ; Arnaldo deu um suspiro enquanto desembarcava.

- Pois é; Joakim estava apreensivo, com seu cachecol preto com alguns detalhes rosas ao fim, e suas luvas não mais semi-cerradas. Colocou as mãos nos bolsos e desceu do bote.

Amália observou, ainda sentada, tudo o que a sua vista lhe propunha. Enquanto observava, ouviu-se o rugir das duas chaminés que estavam indo ao longe, e as únicas luzes que iluminavam aquele mar gélido sumiram no horizonte sem deixar vestígios.

- Vamos, T, se não morremos congelados aqui!; e deu seu costumeiro sorriso enquanto se apoiava no seu irmão de mágika. Desceram do bote e todos estavam à neve. Havia uma bruma pesada nos limites de seus olhos, e a única coisa que estava nítida eram as estrelas que se confundiam com as luzes.

*
- Eles já estão lá, posso sentir.
Quero que você vá agora.

- Sim, senhor.

*
- Pronto, senhor idéia brilhante, o que vamos fazer agora?; Amália encarou Joakim como quem se sente superior diante da situação.

- Faça uma varredura telepática pela área e veja quantas criaturas temos para nos preocupar.

Amália colocou as duas mãos à cabeça, apoiada nos seus indicadores e dedo médio.
De repente, ela viu o Mundo de cima.
Girava rapidamente, como um movimento de quem passa pelo tempo.
Sua atmosfera mudava com a mesma velocidade com que girava, e ela se viu pairando no universo, como uma coisa inimaginável, como uma coisa que não se imagina, como um navio ancorando no universo, sem porto nem cais, nem rota e nem nós.
Então ela o viu.
Era ele, tinha certeza.
Duas caveiras em seus ombros, botas pontudas e amarelas, indo até o joelho, uma calça verde por debaixo delas, e uma espécie de enchimento sob sua blusa, mais parecida com uma armadura, vermelha. Usava uma máscara metade branco, metade preto, que ia até o lobo traseiro de seu crânio. Duas espadas formavam um ‘X’ em suas costas, e eram espadas grandes, parecidas com as armas exóticas utilizadas pelos antigos cavaleiros medievais.
Em sua mão esquerda, uma tatuagem do coringa que se usa em baralhos, e em sua mão direita, o desenho de um balão vermelho.
Olhou para ela, que de repente se viu caindo do alto das estrelas e parando no local conhecido como Terra das Sombras.

- O que vocês pretendem, Amália de Liverá?; sua voz soava forte e branda, como uma rocha inabalável, como uma pedra de diamante, que não se quebra nem com a mais forte martelada.
Amália estava extática, se perguntando como ele poderia ter entrado em sua mente. De fato, era uma mágika muito poderosa, que só em olhar para ele, dava aquela sensação só sentida por ela uma vez em sua existência, aquela sensação ruim, que nos faz oscilar e pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa grande, aquela sensação que nos dá um sentimento de impotência, de infantilidade. Medo.

- Como você conseguiu entrar na minha mente?; ela fazia de tudo para não se mostrar fraca, mas sabia que quando ele a observava no fundo dos olhos era que ele sentia o medo fluir nas veias dela. E era justamente isso que ele queria.

- Meus poderes não têm precedentes. Ainda mais agora.

- Como assim, ainda mais agora?

- Foi a idiotice daquele menina que me libertou, você sabe, não sabe? Você sabe que a partir de agora tudo vai ser diferente, e você sabe que o medo que faz com que você trema agora é proveniente do que nós estamos fazendo. O maior erro de vocês foi ter me aprisionado naquele corpo, humano e frágil.

- Idiotice sua pensar que vamos nos render tão fácil assim. Você é só um, nós somos s...

- Sete? Tem certeza disso? Porque você acha que nenhum dos outros apareceu até agora? Porque você acha que se sente fraca a cada dia que se passa?

- Já chega de perguntas!

- Não, ainda não. Durma.

Do lado de fora, não se havia passado nem um segundo. Joakim havia virado para Ana para brincar com Arnaldo quando sentiu, do nada, a energia de Amália desaparecendo, e ela caiu, como quem se enfraquece de repente. A caminho da queda, Arnaldo, T e Ana viram-na flutuando, num baque silencioso e lento. Joakim estava se concentrando. ‘Mente sobre matéria’, pensou Ana. T a tomou em seus braços e Joakim tirou de sua sacola uma coberta, colocando Amália deitada sobre ela.

- Você sentiu?; Joakim olhou com um olhar diferente para T, que balançou a cabeça assertivamente.

Foi-se visto a bruma acima deles se dissipando junto a um portal de luz repentino. Se viram, num piscar de olhos, sob uma superfície gelada e, pela pressão, entendia-se ser essa superfície bem elevada. Um Palhaço foi visto parado, olhando para eles. Usava botas amarelas, uma máscara contrastante e duas espadas nas costas. Ana olhou, em estado de choque. Ele virou a cabeça para os quatro, agora sem Amália, e parou em Joakim e T. Quando olhou para Ana, ela o reconheceu como a quem reconhece uma roupa que usava quando criança, ou como quem reconhece um irmão, mesmo depois de muitos anos sem vê-lo. Então ela olhou como quem, inconfundivelmente, reconhece um pai.

Então ele disse, em tom de desdém:

- Oi, ‘filha’.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ana e o Mar - Primeira Parte do Terceiro Ato

‘o céu é o mar de cabeça pra baixo.’

-

O clima estava pesado na masmorra do castelo. Os tubos borbulhavam enquanto o cheiro de mágika se espalhava por todos os lados. Era forte a percepção de que algo grande estava sendo planejado e efetuado.

- Então, como você pretende fazer isso?

- Eu ainda não sei, tenho muito o que pensar ainda; e começou a andar pela sala maquinando mil e uma coisas. Ele aparentava ser razoavelmente jovem, mais ou menos uns 35 anos, mas era bastante sábio. Usava uma roupa em sua maioria roxa, um colarinho branco e tinha os quatro naipes do baralho em seu corpo. Espadas no braço direito, Ouro na cabeça, Copas no meio do busto e Paus no braço esquerdo - Os poderes têm de ser divididos igualmente, pra não sobrecarregar nenhum deles e, caso haja formação de ‘afinidades’ entre alguns, isso não prejudique os outros.

- Claro, inclusive se você quer realmente manter esse equilíbrio, o que, particularmente, acho bastante difícil.

- Eu sei, Olivier, por isso pedi pra que você viesse imediatamente me ajudar.

- Então, deixe-me ser presunçoso, que nós temos guardado?

- Piro, Lux, Natura, Efêmera, Spiritum, Psique, o qual já foi contemplado e...Treva; ele deu uma parada dura e um suspiro nesse último.

- Dividamos um para cada um, então. É a forma mais simples que nós temos e podemos fazer.

- Você está louco? Há alguns dons que são mais poderosos que outros! Quando estivermos moldando o caráter deles é que nós teremos uma noção melhor de como dividir tudo isso. Mas você já está com sua Psique no nível máximo, não?

- Acho que sim.

- Então pronto, você será de grande ajuda nisso tudo. Sua Telecinése e Telepatia serão de grande ajuda.

- Pode contar comigo; e saiu voando pela janela da torre mais alta. Este tinha metade azul e metade cor-de-rosa, bem como um sol gigantesco também cor-de-rosa nas costas, contornado por uma coroa dourada de tamanho equivalente. Ouvia-se, ao seu mover, um barulho agradável, semelhante àquele da Criação do Universo, e tinha, também, um único naipe em seu corpo. Era Copas, e ficava do lado esquerdo do peito. Seus olhos eram verdes, e ele usava faixas nas pernas, contornando-as em espiral, cada qual numa cor, distribuídas entre vermelho, azul, rosa e laranja.

O outro sentou-se na cadeira mais próxima, com os 6 potes de cores diferentes à sua frente. O que diabos iria fazer com aquilo? Pensou em distribuir igualmente, mas não poderia fazer isso, seria injusto com alguns. Só com alguns, pensou.


*

T acordou mais cedo que todos naquele dia. Seu sol estava mais claro e forte, e sua fome aumentando ainda mais. Joakim e Amália já haviam acordado [ao mesmo tempo, como todos os dias] e apenas Arnaldo e Ana continuavam dormindo, cobertos, com aquele cobertor de folhas de sequóias. Decidiram, por fim, ficarem todos no mesmo quarto: assim poderiam conversar sobre algo interessante ou até mesmo se conhecer melhor. Ana, na noite passada, descobriu que cada Filho do Sol tem um Dom Sacro, dado por Deva na hora da Criação. Joakim podia mover as coisas com a força do pensamento. A esse poder, foi dado o nome de Telecinése, que representa o poder da mente sobre a matéria e se inclui entre os 7 ciclos mágicos da natureza, Psique. Amália podia ler a mente das pessoas e sentir tudo com o mesmo poder. Também derivado da Psique, ela chamava isso de Telepatia. T podia , de alguma forma que ele não sabe como, controlar e ‘fabricar’ fogo. É o mais estranho dos poderes vistos por Ana e Arnaldo, e eles ficaram preocupados pois quase que o quarto era incendiado na noite que se passou. Pirocinése é o nome dado a essa capacidade.

T ouviu gargalhadas quando saiu para o convés do navio. O mar estava negro de gelo, e o céu, a cada hora que passava, parecia mais denso. Nem parecia aquele mar azul e o céu também azul visto alguns dias atrás. Estavam se aproximando do Pólo Norte do Mundo, e as coisas estavam esfriando. Os risos vinham de Amália, e Joakim aparentemente tinha falado alguma coisa tipicamente idiota.

- O dorminhoco acordou!; Amália abriu aquele sorriso lindo. Estava trajando roupas de frio, incluindo luvas brancas, um casaco feito com fibra de casca de banana gigante e um chapéu com suporte aos ouvidos.

T abriu um sorriso meio sem jeito, e foi dar um abraço nos dois. Terminou acompanhando-os por mais ou menos uma hora, apenas calado, observando o mar e o movimento das não mais existentes grandes ondas.Quando deu a hora do lanche, eles foram acordar Ana e Arnaldo, a dupla invencível, como Joakim tinha começando a zoar. Os dois estavam no meio de uma guerra de travesseiros quando a porta foi aberta. Amália olhou como quem vai reclamar, mas não deu um segundo e um travesseiro voou em sua direção derrubando-a no corredor. Joakim começou a rir e entrou na brincadeira, enquanto T procurava outro travesseiro no guarda-roupas pra entrar na brincadeira. Amália se levantou do chão e entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Uma chuva de plumas foi tomando conta do quarto enquanto duelavam Amália contra Ana, Arnaldo, T e Joakim.

- Tá booom, táá booom, eu me reeeendo!; Amália estava toda descabelada, quase sem casaco e toda coberta de pluma, feita sinteticamente à base de algodão. Que nada, a pessoa não pode nem brincar com vocês! Era pra pelo menos um ter vindo me ajudar!

- Deeeixa de ser besta, tu num é tão forte? Era pra ter ganho da gente tudinho!; Joakim soltou o travesseiro e foi ajudar a irmã a levantar-se. Agora vamo comer que eu to com fome!

- Donaaana, cheeega batendo que a gente derrotou os dois juntos! Ele levantou a mão com os olhos brilhando de felicidade e Ana olhou pra ele pensativa. Se jogou por cima e começou a fazer cócegas enquanto ele gritava ‘socoooooorroo, socoooooorro!’ e todos caíam na risada. É, pensou T, eles me fazem muito bem.

Depois do café, foram todos tirar uma cesta, ou pelo menos tentar fazer isso.
Foi à noite que, estando no convés daquele imenso transporte branco, que foram vistas luzes pelos olhos cor de fogo, e elas vinham de uma grande montanha. O frio foi aumentando gradativamente, e, para quem podia ver, espíritos por toda parte rondavam o local amaldiçoado por Sadhi. Haviam chegado à Brobdingnag.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Universo In-verso I

Eu não tenho mais idade pra ciúmes,
nem paciência pra brincar com facas de dois gumes,
nem idade pra brincar de carinho,
nem mandar cartinhas bonitas.

Eu não tenho mais idade pra me cortar durante o aparo da barba,
nem paciência pra fingir não conhecer quem eu briguei,
nem idade pra idealizar as pessoas,
nem cabeça pra mentir.

Eu não tenho mais a cara que eu tinha,
eu não tenho mais paciência pra fingir não ver meus pais ao dormir,
nem pra desconstruir alguns castelos.

Eu não tenho mais cara pra ser criança.
Eu só tenho cara pra ser eu.
E só.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

[sem título]

Quisera eu ver paz em teus olhos,
e sentir aquele abraço de sempre,
e não me deixar levar pelo momento,
e não te fazer dor e sofrimento.

Quisera eu o fácil ao certo,
te mostrar que não é que eu seja um deserto,
mas é que te gosto tanto,
que nem mesmo faltando um pranto,
eu posso esconder.

Quisera eu contigo estar agora,
na tua presença que minha pele desflora,
te apertar e dizer 'não tema, não chora'.

Quisera eu não ter medo de fazer qualquer ofício,
pensando em me calar pra não tornar mais difícil,
e chorar, pelo menos uma lágrima, porque, com certeza,
não seria desperdício.

Quisera eu ter a maturidade pra lidar com a situação,
a certeza de que não vou jogar teu coração ao chão,
e ver que ter fé e crer é bom,
quando se sabe que o que se pode saber não se sabe.

Quisera eu colocar teu nome nesta dedicatória,
mas nem palavras nem técnicas de oratória
servirão pra te mostrar isso, agora.

Quisera eu dizer o que tá guardado aqui,
quisera eu...

'e não pensa que eu fui por não te amar'

Ana e o Mar - Última Parte do Segundo Ato

'e agora, o amanhã, cadê?'

-

*

Ele foi enterrado lá por ter levado consigo o título de imperador do fogo. Melhor local que o gelo eterno não existe para um ser que tanta morte causou. É o mesmo que fazer uma estátua de um ateu em frente a um templo. Um martírio eterno. A princípio, a idéia não era essa. Não se sabia o que a mágika do seu corpo poderia fazer, nem se ela poderia provir algum tipo de efeito sobre as terras em que estivesse submersa. Mas algo aconteceu, há exatamente quinhentos anos atrás. O evento ficou conhecido como 'A Queda'.


*


O ser supremo pisou naquele gelo com um corpo em mãos. Era um corpo que sangrava, por dentro e por fora, e era um corpo morto. Suas mãos pediam socorro, mas não haveria socorro pr'aquele que abalasse a paz do Mundo. Apesar de tudo, não havia piedade naquele tempo. Apenas um palhaço a carregava consigo e, por isso, este foi exilado nos locais mais sombrios do Mundo, confinado a passar mil anos em segredo e calado, sendo conhecido apenas pelos raios de sol, que pouco penetravam nessas mesmas terras.

Ainda no gelo, cavou um túnel em forma de labirinto, para esconder uma das centelhas mais preciosas de mágika. Nesse labirinto, colocou criaturas monstruosas, desafios inimagináveis, tudo para guardar essa centelha, retirada do corpo mais sub-humano que já foi visto em terra.


*


- E o que você pretende com isso, Joakim?; Amália estava agitada e impaciente.

- Não vamos necessariamente ressucitá-lo, Amália. Precisamos mesmo é da força que o corpo dele abrigava. Sozinhos, jamais penetraremos na Terra das Sombras, já que Pied controla tudo por lá e é um Palhaço que tem mais de mil anos de vida.

- Mas eu também tenho! Nós também temos!; Amália agora havia levantado a voz.

- Sim, Amália, mas ele passou mil anos estudando e conhecendo a mágika, nós passamos mil anos dormindo feito uma fábula! Você acha que tem comparação?

- Que droga, Joakim, você perdeu a noção das coisas! Se ele se revolta contra a gente e perdemos o controle colocaremos o Mundo em mais uma guerra!


T só fazia olhar, assustado, até que entrou no meio dos dois e os mandou, com um gesto, sentar.
Foi quando Arnaldo acordou e a conversa se dissipou no ar como se nunca houvesse acontecido.


- Vamos dormir - disse Joakim, e saiu fechando a porta meio que forte.

Amália continuava assustada e triste ao mesmo tempo, não estava mais reconhecendo seu irmão.
Parece que o tempo que passou adormecido havia afetado a mente que ele tinha. Mas deixa, ela foi dormir.


**


O vento estava forte e frio, e a proa do navio parecia não aquecer de forma nenhuma, Joakim estava esperando ansioso avistar a montanha continental gelada, mas ainda faltariam três dias pra que isso acontecesse. A viagem tem sido cansativa, mas todos os 5 estavam bem alojados. Era um navio grande e branco e azul, com duas chaminés que cuspiam vapor de carvão aos céus, e tinha um nome encravado nele 'Vagamóvel', o qual ninguém entendia porque.

Havia três meses que o Vagamóvel era a morada de Ana, Arnaldo, Amália, T e Joakim.

O navio era realmente aconchegante, tinha dois andares - o que para o Mundo é considerado alta tecnologia - e cada um com cerca de 100 quartos. Os detalhes eram todos em madeira, e os quartos todos suítes e com serviço especializado. A camas forradas com os melhores tecidos e as janelas tão amplas que era como se todo o ar que circula no oceano pudesse adentrar no cômodo.
T se recostou em sua cama, e passou a observar o quarto. Sentia saudades dos tempos de paz, de quando era contra-regra d'O Teatro Mágico, aquela trupe que o acolheu tão bem. Ele lembrou da sua vida, desde o começo, quando não sabia ser palhaço. Pra ele, ser palhaço é coisa simples e humilde, seja brincando com as crianças, seja jogando uma pedra repetidas vezes e não se cansando. Ele parece um boneco, de fato. Sua maquiagem não nega isso, mas no Mundo, a maquiagem é chamada de 'Máscara' e, consequentemente, cada Palhaço tem sua Máscara.
T sempre foi calmo e, apesar de não gostar muito de falar, foi o segundo Palhaço que Deva fez.
Viveu muito tempo antes de conhecer a trupe, lá na Planície de Gonda. Ele era um contador de estórias, e as pessoas o achavam o máximo. Até que um dia, a escuridão tomou conta do mundo. T ficou estagnado, pois foi um dos que mais lutou contra essa escuridão. Sua voz ele fez ecoar por todos os cantos do Mundo, levando paz e sonho pros que precisavam. Doou sua mágika ao arco-íris, e dele fez nascer outro Palhaço, que, convocado, chegou num cometa. Esse Palhaço foi chamado de 'Matraquinha', porque falava demais. A voz de T, depois de tanto esforço pra convocar outro Palhaço para ajudar, foi se esvaindo, e Matraquinha nasceu falante, como o próprio nome diz. Desde esse dia, T, embora muito feliz e satisfeito, e embora tenha ajudado tanto na guerra contra a escuridão, nunca mais proferiu uma palavra só.