segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ana e o Mar - Primeira Parte do Terceiro Ato

‘o céu é o mar de cabeça pra baixo.’

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O clima estava pesado na masmorra do castelo. Os tubos borbulhavam enquanto o cheiro de mágika se espalhava por todos os lados. Era forte a percepção de que algo grande estava sendo planejado e efetuado.

- Então, como você pretende fazer isso?

- Eu ainda não sei, tenho muito o que pensar ainda; e começou a andar pela sala maquinando mil e uma coisas. Ele aparentava ser razoavelmente jovem, mais ou menos uns 35 anos, mas era bastante sábio. Usava uma roupa em sua maioria roxa, um colarinho branco e tinha os quatro naipes do baralho em seu corpo. Espadas no braço direito, Ouro na cabeça, Copas no meio do busto e Paus no braço esquerdo - Os poderes têm de ser divididos igualmente, pra não sobrecarregar nenhum deles e, caso haja formação de ‘afinidades’ entre alguns, isso não prejudique os outros.

- Claro, inclusive se você quer realmente manter esse equilíbrio, o que, particularmente, acho bastante difícil.

- Eu sei, Olivier, por isso pedi pra que você viesse imediatamente me ajudar.

- Então, deixe-me ser presunçoso, que nós temos guardado?

- Piro, Lux, Natura, Efêmera, Spiritum, Psique, o qual já foi contemplado e...Treva; ele deu uma parada dura e um suspiro nesse último.

- Dividamos um para cada um, então. É a forma mais simples que nós temos e podemos fazer.

- Você está louco? Há alguns dons que são mais poderosos que outros! Quando estivermos moldando o caráter deles é que nós teremos uma noção melhor de como dividir tudo isso. Mas você já está com sua Psique no nível máximo, não?

- Acho que sim.

- Então pronto, você será de grande ajuda nisso tudo. Sua Telecinése e Telepatia serão de grande ajuda.

- Pode contar comigo; e saiu voando pela janela da torre mais alta. Este tinha metade azul e metade cor-de-rosa, bem como um sol gigantesco também cor-de-rosa nas costas, contornado por uma coroa dourada de tamanho equivalente. Ouvia-se, ao seu mover, um barulho agradável, semelhante àquele da Criação do Universo, e tinha, também, um único naipe em seu corpo. Era Copas, e ficava do lado esquerdo do peito. Seus olhos eram verdes, e ele usava faixas nas pernas, contornando-as em espiral, cada qual numa cor, distribuídas entre vermelho, azul, rosa e laranja.

O outro sentou-se na cadeira mais próxima, com os 6 potes de cores diferentes à sua frente. O que diabos iria fazer com aquilo? Pensou em distribuir igualmente, mas não poderia fazer isso, seria injusto com alguns. Só com alguns, pensou.


*

T acordou mais cedo que todos naquele dia. Seu sol estava mais claro e forte, e sua fome aumentando ainda mais. Joakim e Amália já haviam acordado [ao mesmo tempo, como todos os dias] e apenas Arnaldo e Ana continuavam dormindo, cobertos, com aquele cobertor de folhas de sequóias. Decidiram, por fim, ficarem todos no mesmo quarto: assim poderiam conversar sobre algo interessante ou até mesmo se conhecer melhor. Ana, na noite passada, descobriu que cada Filho do Sol tem um Dom Sacro, dado por Deva na hora da Criação. Joakim podia mover as coisas com a força do pensamento. A esse poder, foi dado o nome de Telecinése, que representa o poder da mente sobre a matéria e se inclui entre os 7 ciclos mágicos da natureza, Psique. Amália podia ler a mente das pessoas e sentir tudo com o mesmo poder. Também derivado da Psique, ela chamava isso de Telepatia. T podia , de alguma forma que ele não sabe como, controlar e ‘fabricar’ fogo. É o mais estranho dos poderes vistos por Ana e Arnaldo, e eles ficaram preocupados pois quase que o quarto era incendiado na noite que se passou. Pirocinése é o nome dado a essa capacidade.

T ouviu gargalhadas quando saiu para o convés do navio. O mar estava negro de gelo, e o céu, a cada hora que passava, parecia mais denso. Nem parecia aquele mar azul e o céu também azul visto alguns dias atrás. Estavam se aproximando do Pólo Norte do Mundo, e as coisas estavam esfriando. Os risos vinham de Amália, e Joakim aparentemente tinha falado alguma coisa tipicamente idiota.

- O dorminhoco acordou!; Amália abriu aquele sorriso lindo. Estava trajando roupas de frio, incluindo luvas brancas, um casaco feito com fibra de casca de banana gigante e um chapéu com suporte aos ouvidos.

T abriu um sorriso meio sem jeito, e foi dar um abraço nos dois. Terminou acompanhando-os por mais ou menos uma hora, apenas calado, observando o mar e o movimento das não mais existentes grandes ondas.Quando deu a hora do lanche, eles foram acordar Ana e Arnaldo, a dupla invencível, como Joakim tinha começando a zoar. Os dois estavam no meio de uma guerra de travesseiros quando a porta foi aberta. Amália olhou como quem vai reclamar, mas não deu um segundo e um travesseiro voou em sua direção derrubando-a no corredor. Joakim começou a rir e entrou na brincadeira, enquanto T procurava outro travesseiro no guarda-roupas pra entrar na brincadeira. Amália se levantou do chão e entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Uma chuva de plumas foi tomando conta do quarto enquanto duelavam Amália contra Ana, Arnaldo, T e Joakim.

- Tá booom, táá booom, eu me reeeendo!; Amália estava toda descabelada, quase sem casaco e toda coberta de pluma, feita sinteticamente à base de algodão. Que nada, a pessoa não pode nem brincar com vocês! Era pra pelo menos um ter vindo me ajudar!

- Deeeixa de ser besta, tu num é tão forte? Era pra ter ganho da gente tudinho!; Joakim soltou o travesseiro e foi ajudar a irmã a levantar-se. Agora vamo comer que eu to com fome!

- Donaaana, cheeega batendo que a gente derrotou os dois juntos! Ele levantou a mão com os olhos brilhando de felicidade e Ana olhou pra ele pensativa. Se jogou por cima e começou a fazer cócegas enquanto ele gritava ‘socoooooorroo, socoooooorro!’ e todos caíam na risada. É, pensou T, eles me fazem muito bem.

Depois do café, foram todos tirar uma cesta, ou pelo menos tentar fazer isso.
Foi à noite que, estando no convés daquele imenso transporte branco, que foram vistas luzes pelos olhos cor de fogo, e elas vinham de uma grande montanha. O frio foi aumentando gradativamente, e, para quem podia ver, espíritos por toda parte rondavam o local amaldiçoado por Sadhi. Haviam chegado à Brobdingnag.

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