domingo, 21 de dezembro de 2008

Ana e o Mar - Segunda e Última Parte do Último Ato

'Now, you have two ways to make. The way of scorpion and the way of the phoenix'

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Ainda de pé, um olhou para o outro. Se viram acima do subsolo, sobre o disco voador de Liberdade. Era a última marcha, o dia que decidiria tudo o que estava por vir. Tudo aquilo que precisou de mil anos para se resolver seria resolvido nessa última batalha. Os Palhaços de Alexandria provavelmente já deveriam estar mais perto da Terra das Sombras, pensou Joakim. Amália podia sentir o que o irmão estava pensando. Em como tudo aquilo começou, em como iria se concretizar o desfecho desse conto que durou tanto tempo.
Ganhar a batalha não era apenas uma questão de realizar um dever deixado por Deva, mas também significava salvar o mundo de um mal que tentou governar e atrapalhou a vida da população de uma forma tão catastrófica que até a mais bonita das florestas pereceu. Ganhar essa batalha significava ir a favor de tudo aquilo que as gerações anteriores foram construindo, e também continuar o legado deixado pelos primeiros Palhaços que pisaram no Mundo.
Para algumas pessoas, ver um Palhaço ou conversar com um é uma coisa tão mágica que parece que o momento não vai acabar. O brilho no olho da criança e o sorriso que o tempo muitas vezes deforma dos idosos transformam a vida de qualquer um. É gratificante você saber que o dia de alguém mudou por sua causa. E chega até a ser engraçado o que algumas crianças fazem, coisas como estirar o dedo ou mostrar a língua, tentando intimidar um ser que eles tanto querem que o abracem e brinque. É tudo lindo.

*

O disco levantou vôo. O céu estava claro agora, a velocidade com que o mesmo avançava sobre as nuvens era incrível. Joakim, Amália, T, Liberdade, Vida, Pétala e Nina, juntos, se sentiam invencíveis.

*

Do outro lado do Mundo...

- Eles podem vir em milhares, mas não abrirei os braços para isso. Vou vencer. De novo.

*

Do narrador aos leitores.

De fato, a mágika de Pied era muito poderosa. Palhaços de todas as partes do Mundo tinham perecido sob seu poder, até mesmo os mais poderosos. O próprio Deva teve dificuldades de aprisioná-lo da última vez. Talvez, se Sadhi não estivesse louco, tanto Deva como Olivier com certeza estariam enterrados agora. Treva é um dom muito poderoso, apesar de macabro. Tão poderoso que Deva criou apenas um Palhaço com esse Dom e outros 7 para poder fazer a lei do equilíbrio valer. Na verdade, foram criados diretamente por Deva 8 Palhaços. Um permaneceu em exílio eterno. Esse Palhaço sofreu tanto pelo seu dom que foi nomeado de Piedade, porque o que ele mais precisava de todos os outros que o cercavam era isso, piedade. Mas todos o olhavam diferente. Ninguém o estendeu a mão quando ele precisou. Só um, em todo o Mundo. Sadhi. Apesar de louco, era muito esperto. Sabia que a rejeição de Piedade por parte dos outros Palhaços o faria um bom aliado quando soubesse que a intenção era dominar o Mundo e selecionar os Palhaços que iriam governá-lo. Foi a melhor estratégia que ele podia ter feito. Ao término da Guerra do Fogo e com a morte de Sadhi, Pied foi confinado na Terra das Sombras por Deva. Sua magia foi selada por mil anos, de forma que só nos tempos atuais ele pôde se libertar. O que ele não esperava é que sua mágika foi selada não em um amuleto ou local, mas em uma pessoa. Quando se guarda mágika em uma pessoa, para retirar essa energia contida é usada a técnica que os magistas humanos chamam de 'Desenredar'*. O portador da energia tem de ir liberando-a aos poucos, caso contrário, o tempo fará com que a mágika acumulada apodreça, e tome conta do corpo, que vai ficar doente até a energia ser liberada por completo. O pai de Ana é descendente direto do primeiro humano em que a energia de Pied foi aprisionada, por isso continha grande parte de toda essa energia, que foi sendo liberada aos poucos, por isso o mesmo ficou doente. Até que um Palhaço foi criado dessa concentração de energia. Medo só apareceu uma vez, e foi na Guerra da Planície de Gonda. Hoje, voltou no corpo do pai de Ana. E é ele quem vai ajudar Pied.

*

Lá de cima já podia se ver aquelas nuvens negras e podia-se, também, ouvir o som dos trovões que dividiam o céu em tantos pedaços. Aquela horda de Palhaços marchando era vista, também. Milhares, milhões, infinitas máscaras olhavam pra um mesmo local, com um mesmo objetivo e com a mesma força. De repente, do ar pôde-se sentir a terra tremer, e um pilar com uma luz roxa foi visto crescendo até o céu e liberando uma energia jamais antes sentida. Uma onda de energia derrubou algumas das árvores sem vida e alguns dos combatentes. O disco, podia-se jurar, sofreu uma leve alteração no seu curso. Foram então, os Filhos do Sol, cada um para um lado. Alguns Palhaços precisavam de liderança. Criaturas mágicas começaram a aparecer do nada, estavam sendo evocadas pelos evocadores da magia. O terreno, todo em pântano, estava mais negro do que nunca. Começou a chover. Desceram à Terra, quando aquele Palhaço empunhando duas espadas foi visto. Ele sumiu como um raio aparece. Então, corpos voando ao meio do exército foram vistos. Gritos e luzes e mágikas e trovoadas. Um único Palhaço dando conta de todo um exército. Foi então que viu-se Joakim e T entre os Palhaços e eles foram ficar frente a frente com Medo.

- Daqui você não passa; Joakim estava encharcado por conta da chuva. O cheiro de morte era sentido em qualquer local e alguns corpos estavam perto dele. Sua máscara estava diferente. Um olhar diferente, uma aura diferente.

- Eu não vim para lutar. Eu vim pra vencer; Medo desembainhou sua outra espada para confrontar o filho do sol.

Guizos rolaram pelo ar e seu som era ouvido até onde o olho podia enxergar. Uma legião de mortos vivos se ergueu do pântano. Eram esqueletos de gente e de animais, pessoas que um dia pensaram, viveram e até amaram. Era incrível o modo como Vida os repelia. Eles nem conseguiam tocá-la, ao menos. Nina, Amália e Pétala protegiam os guerreiros do exército com escudos de flores e mentais. Arco íris nasceu e um cometa veio descendo. T estava olhando fixamente para o céu naquela hora e de si saía uma aura boa. Com a queda, alguns esqueletos foram derrubados, e uma ventania foi fortemente sentida quando aquela boneca alta começou a girar seus acessórios.
Do outro lado, Joakim levava uma surra do outro Palhaço. Amália conseguiu se esquivar do toque dos carniçais e chegou até onde ele estava. A espada estava em seu pescoço, quando T, Nina, Pétala, Vida e Liberdade se viraram e uma luz enorme foi vista. Alguns ficaram encadeados e os mortos-vivos que estavam por perto evaporaram. Uma luz azul e roxa foi vista e nem Amália nem Joakim estavam mais lá. Segurando a espada com uma mão, um Palhaço vestido de azul e rosa, com um chapéu de bobo-da-corte e levitando estava lá em frente ao Medo.

- Há quanto tempo.

O Palhaço do inimigo olhava estranho mas com um sorriso irônico no canto da boca.

- Agora vou ter um oponente à altura. Então, como foi o tempo separado, Olivier?

- Melhor que o seu, garanto.

Sumiram com uma velocidade incrível e reapareceram voando no céu. Os outros Filhos do Sol estavam tendo trabalho contra os esqueletos, mas os Palhaços de Alexandria estavam sendo de grande ajuda. Mas aquele castelo começou a subir dentro do pântano. Um riso histérico ouvido por todos fez tremer os mais fracos.

- Vaaamos Filhos do Sol, vamos dançar!

Boom! A explosão abriu uma cratera imensa em que apenas os que sabiam voar e os que ficaram sob o disco de Liberdade se safaram da queda. Pied foi visto. Com metade do corpo preta e a outra metade branca, ele trazia um naipe, apenas um sob sua máscara. Espadas. Os esqueletos pararam quando ele chegou. Seu olhar era frio e indiferente e sua presença dava arrepios. Desceu devagar, passo por passo, as escadas que levavam às portas do castelo.

- Quantos de vocês vieram para me enfrentar?

Silêncio. A única coisa que se ouvia era Olivier e Medo duelando céu acima.

Pied não esperou nada acontecer nem ninguém falar, começou a retalhar tudo e todos pela frente. Gritos, almas, mágika, tudo voando sem rumo. Até que o céu, vermelho, se abriu. Um Palhaço roxo desceu como uma estrela, e um grito fou ouvido. Até que o clarão tomou conta de tudo.

'Jai Guru Deva. Om.'

Fim.

Um comentário:

Samantha Santos disse...

Hey posso conversar contigo? você me passaria o nome do seu blog? você não usa mais o blog