quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ana e o Mar - Última Parte do Segundo Ato

'e agora, o amanhã, cadê?'

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Ele foi enterrado lá por ter levado consigo o título de imperador do fogo. Melhor local que o gelo eterno não existe para um ser que tanta morte causou. É o mesmo que fazer uma estátua de um ateu em frente a um templo. Um martírio eterno. A princípio, a idéia não era essa. Não se sabia o que a mágika do seu corpo poderia fazer, nem se ela poderia provir algum tipo de efeito sobre as terras em que estivesse submersa. Mas algo aconteceu, há exatamente quinhentos anos atrás. O evento ficou conhecido como 'A Queda'.


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O ser supremo pisou naquele gelo com um corpo em mãos. Era um corpo que sangrava, por dentro e por fora, e era um corpo morto. Suas mãos pediam socorro, mas não haveria socorro pr'aquele que abalasse a paz do Mundo. Apesar de tudo, não havia piedade naquele tempo. Apenas um palhaço a carregava consigo e, por isso, este foi exilado nos locais mais sombrios do Mundo, confinado a passar mil anos em segredo e calado, sendo conhecido apenas pelos raios de sol, que pouco penetravam nessas mesmas terras.

Ainda no gelo, cavou um túnel em forma de labirinto, para esconder uma das centelhas mais preciosas de mágika. Nesse labirinto, colocou criaturas monstruosas, desafios inimagináveis, tudo para guardar essa centelha, retirada do corpo mais sub-humano que já foi visto em terra.


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- E o que você pretende com isso, Joakim?; Amália estava agitada e impaciente.

- Não vamos necessariamente ressucitá-lo, Amália. Precisamos mesmo é da força que o corpo dele abrigava. Sozinhos, jamais penetraremos na Terra das Sombras, já que Pied controla tudo por lá e é um Palhaço que tem mais de mil anos de vida.

- Mas eu também tenho! Nós também temos!; Amália agora havia levantado a voz.

- Sim, Amália, mas ele passou mil anos estudando e conhecendo a mágika, nós passamos mil anos dormindo feito uma fábula! Você acha que tem comparação?

- Que droga, Joakim, você perdeu a noção das coisas! Se ele se revolta contra a gente e perdemos o controle colocaremos o Mundo em mais uma guerra!


T só fazia olhar, assustado, até que entrou no meio dos dois e os mandou, com um gesto, sentar.
Foi quando Arnaldo acordou e a conversa se dissipou no ar como se nunca houvesse acontecido.


- Vamos dormir - disse Joakim, e saiu fechando a porta meio que forte.

Amália continuava assustada e triste ao mesmo tempo, não estava mais reconhecendo seu irmão.
Parece que o tempo que passou adormecido havia afetado a mente que ele tinha. Mas deixa, ela foi dormir.


**


O vento estava forte e frio, e a proa do navio parecia não aquecer de forma nenhuma, Joakim estava esperando ansioso avistar a montanha continental gelada, mas ainda faltariam três dias pra que isso acontecesse. A viagem tem sido cansativa, mas todos os 5 estavam bem alojados. Era um navio grande e branco e azul, com duas chaminés que cuspiam vapor de carvão aos céus, e tinha um nome encravado nele 'Vagamóvel', o qual ninguém entendia porque.

Havia três meses que o Vagamóvel era a morada de Ana, Arnaldo, Amália, T e Joakim.

O navio era realmente aconchegante, tinha dois andares - o que para o Mundo é considerado alta tecnologia - e cada um com cerca de 100 quartos. Os detalhes eram todos em madeira, e os quartos todos suítes e com serviço especializado. A camas forradas com os melhores tecidos e as janelas tão amplas que era como se todo o ar que circula no oceano pudesse adentrar no cômodo.
T se recostou em sua cama, e passou a observar o quarto. Sentia saudades dos tempos de paz, de quando era contra-regra d'O Teatro Mágico, aquela trupe que o acolheu tão bem. Ele lembrou da sua vida, desde o começo, quando não sabia ser palhaço. Pra ele, ser palhaço é coisa simples e humilde, seja brincando com as crianças, seja jogando uma pedra repetidas vezes e não se cansando. Ele parece um boneco, de fato. Sua maquiagem não nega isso, mas no Mundo, a maquiagem é chamada de 'Máscara' e, consequentemente, cada Palhaço tem sua Máscara.
T sempre foi calmo e, apesar de não gostar muito de falar, foi o segundo Palhaço que Deva fez.
Viveu muito tempo antes de conhecer a trupe, lá na Planície de Gonda. Ele era um contador de estórias, e as pessoas o achavam o máximo. Até que um dia, a escuridão tomou conta do mundo. T ficou estagnado, pois foi um dos que mais lutou contra essa escuridão. Sua voz ele fez ecoar por todos os cantos do Mundo, levando paz e sonho pros que precisavam. Doou sua mágika ao arco-íris, e dele fez nascer outro Palhaço, que, convocado, chegou num cometa. Esse Palhaço foi chamado de 'Matraquinha', porque falava demais. A voz de T, depois de tanto esforço pra convocar outro Palhaço para ajudar, foi se esvaindo, e Matraquinha nasceu falante, como o próprio nome diz. Desde esse dia, T, embora muito feliz e satisfeito, e embora tenha ajudado tanto na guerra contra a escuridão, nunca mais proferiu uma palavra só.

Um comentário:

Amália disse...

aaah! o 4º já apareceu *-*