domingo, 5 de outubro de 2008

Faca

Ele ia se operar naquele dia.
Tinha medo de deixar as pessoas pra trás pois, apesar de ser uma pessoa muito fresca, a cirurgia tinha em si um certo risco.
Pensava na mãe, no pai, nos irmãos, mas a namorada, a amiga, a companheira era quem mais vinha à cabeça.

- Eu volto, pode me esperar.

Disse ele a ela antes de viajar - a cirurgia seria feita em outra cidade.
Foi então, sem medo, apenas ansioso.
O quarto era branco, tinha apenas um banheiro. Com ele, sua mãe e sua tia.
Colocou um avental branco e uma cueca que tinha de ser 100% algodão e esperou a cadeira de rodas que o vinha buscar.

- Bom dia, com licença.

A enfermeira entrou e pediu pra que ele se acomodasse no assento.

- Tchau mãe, tchau tia, amo vocês.

O corredor estava vazio, e havia alguns gritos e gemidos de dor ao passar pela enfermaria.
O elevador de serviço era grande o suficiente pra carregar duas macas com pessoas e seus respectivos acompanhantes.

A sala em que ele ficou esperando o médico estava escura e solitária.
Passados três minutos, chegou outra pessoa para buscá-lo.
Chegou na sala, começaram a ser colocados eletrodos em seu busto e pulsos.
Uma agulha de suporte foi levemente injetada na veia da mão esquerda, enquanto uma touca foi colcoada na cabeça. As únicas palavras que ele lembra antes de apagar foram da anestesista.

- Não se preocupe, estamos aqui pra fazer o melhor por você.

Acordou com alguém mexendo nele.

- Ele tá acordando.
- Venha pra maca.

E fez um leve esforço pra mudar de leito.
Sua tia que é enfermeira acompanhou toda a cirurgia.
Apertou a mão dele e disse:

- Você foi ótimo, ocorreu tudo bem.

Chegou no apartamento meio dopado ainda, e recebeu dois beijos e felicidade.
Conseguia falar sem sentir dor.

- Ela ligou, mãe?
- Umas dez vezes.

E sorriu.

- Quer ligar pra ela?
- Quero sim!

...

- Ele já saiu, pediu pra ligar pra você.
- Oi.
- Tô vivo!

Ele ouviu risos do outro lado da linha.

- Deu tudo certo mesmo?

A voz dela tinha um tom de felicidade.

- Tudinho. Mais tarde eu te ligo, tá?
- Tá minha vida, te amo.
- Te amo também.

Passou mais doze dias sem vê-la, com uma faixa no pescoço.
Foi estranho beijar de novo.

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